quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Os Estatutos do Homem : artigo IV
" Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem .
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento ,
como o vento confia no ar ,
como o ar confia no campo azul do céu .
Parágrafo único :
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino ."
Thiago de Mello
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Pé-de-vento :
" passou.
Sei que era ele
porque transformou
minha integridade
em pó de estrela .
Assoprou tanto ,
que me fez perdê-la
completamente .
Se ele regressar num repente ,
vou tentar detê-lo
para recuperar um fragmento
de claridade .
Pé-de vento.
Há de voltar .
levou meu brilho ,
mas deixou saudade ."
Flora Figueiredo , in " Amor a céu aberto "
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Os Estatutos do Homem : artigo I
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Nascimento ...
" Setembro é mês alegre como maio " , declarou
Clarice Lispector na crônica Preguiça .
Concordo com ela porque desde o nascimento de meus
filhos , primeiro a Fernanda , em setembro , depois o
Felipe , em maio , estes meses sempre coloriram-se ,
para nós , de alegria .
Planejávamos todos os detalhes das festinhas infantis
realizadas em maio e setembro .
Convidávamos muita gente ; família , amigos e crianças
para comemorarmos a Vida !
Valeu a pena .
Hoje , 27 de setembro , nossa " menininha " , que cresceu ,
tornou-se médica e se casou , é quem nos receberá em
sua casa para cantarmos juntos : " Parabéns ..."
Fê , muitos beijos de todos nós .
Saúde e alegria , com as bençãos de Deus .
domingo, 26 de setembro de 2010
Os Estatutos do Homem : artigo XI
sábado, 25 de setembro de 2010
Fernando Pessoa , sempre ...
" O meu olhar é nítido como um girassol .
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda ,
E de vez em quando olhando para trás ...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto ,
E eu sei dar por isso muito bem ...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se , ao nascer ,
Reparasse que nascera deveras ...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo ..."
Alberto Caeiro , in " O Guardador de Rebanhos "
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Congresso Internacional do Medo
" Provisoriamente não cantaremos o amor ,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos .
Cantaremos o medo , que esteriliza os abraços ,
não cantaremos o ódio porque esse não existe ,
existe apenas o medo ,
nosso pai e nosso companheiro ,
o medo grande dos sertões , dos mares , dos desertos ,
o medo dos soldados , o medo das mães ,
o medo das igrejas ,
cantaremos o medo dos ditadores ,
o medo dos democratas ,
cantaremos o medo da morte e
o medo de depois da morte ,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores
amarelas e medrosas . "
Carlos Drummond de Andrade
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Estamos na primavera !
primavera que eu sei o que é a primavera .
Às vezes porém sou tão humilde que os outros
me chamam a atenção . É uma humildade feita
de gratidão talvez excessiva , é feita de um eu
de criança , de susto também de criança .
Mas , desta vez , quando percebi que estava
humilde demais com a alegria que me era dada
pela vinda da primavera chuvosa , dessa vez
apossei-me do que é meu e dos outros.
Sei o que é primavera porque sinto um perfume
de pólen no ar , que talvez seja o meu próprio
pólen , sinto estremecimentos à toa quando um
passarinho canta , e sinto que sem saber estou
reformulando a vida . Porque estou viva. "
Clarice Lispector , in " A descoberta do mundo "
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Conjugação
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Valsinha
"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito
de sempre chegar
olhou-a de um jeito muito mais quente
do que sempre costumava olhar
e não mal disse a vida tanto quanto era seu
jeito de sempre falar
e nem deixou-a só num canto
pra seu grande espanto , convidou-a pra rodar
então ela se fez bonita como há muito tempo
não queria ousar
com seu vestido decotado cheirando a
guardado de tanto esperar
depois os dois deram-se os braços como
há muito tempo não se usava dar
e cheios de ternura e graça
foram para a praça e começaram a se abraçar
e ali dançaram tanta dança que a vizinhança
toda despertou
e foi tanta felicidade que toda a cidade enfim
se iluminou
e foram tantos beijos loucos , tantos gritos
roucos
como não se ouvia mais
que o mundo compreendeu
e o dia amanheceu
em paz ."
Vinicius de Moraes/ Chico Buarque
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
É para lá que eu vou
" Para além da orelha existe um som , à
extremidade do olhar um aspecto , às pontas
dos dedos um objeto - é para lá que eu vou .
À ponta do lápis o traço .
Onde expira um pensamento está uma idéia ,
ao derradeiro hálito de alegria uma outra
alegria , à ponta da espada a magia - é para
lá que eu vou .
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não
voltou-é para lá que eu vou.
Ou não vou ? Vou sim . E volto para ver como
estão as coisas . Se continuam mágicas .
Realidade ? eu vos espero. É para lá que eu vou ."
Clarice Lispector , no conto " É para lá que eu vou"
domingo, 19 de setembro de 2010
Ensinamento
" Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é .
A coisa mais fina do mundo é o sentimento .
Aquele dia de noite , o pai fazendo serão ,
ela falou comigo :
" Coitado , até essa hora no serviço pesado ."
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo
com água quente .
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo."
Adélia Prado , in " Poesia Reunida "
sábado, 18 de setembro de 2010
A saia almarrotada
Trecho do conto
" Na minha vila , a única vila do mundo,
as mulheres sonhavam com vestidos novos para saírem.
Para serem abraçadas pela felicidade .
A mim , quando me deram a saia de rodar , eu me
tranquei em casa .
Mais que fechada , me apurei invisível ,
eternamente nocturna .
Nasci para cozinha , pano e pranto.
Ensinaram-me tanta vergonha em sentir prazer ,
que acabei sentindo prazer em ter vergonha.
Por isso , perante a oferta do vestido , fiquei dentro ,
no meu ninho ensombrado .
No dia seguinte , as outras chegariam e me falariam do
baile , das lembranças cheias de riso matreiro .
E nem inveja sentiria .
(...)
Na minha vila , as mulheres cantavam .
Eu pranteava .
Apenas quando chorava me sobrevinham belezas .
Só a lágrima me desnudava , só ela me enfeitava.
( ... )
Chega-me ainda a voz de meu velho pai como se ele
estivesse vivo . Era essa voz que fazia Deus existir .
Que me ordenava que ficasse feia , desviçosa a vida inteira.
Eu acreditava que nada era mais antigo que meu pai .
Sempre ceguei em obediência , enxotando tentações que
piripirilampejavam a minha meninice .
Obedeci mesmo quando ele ordenou :
Vá lá fora e pegue fogo nesse vestido !
Eu fui ao pátio com a prenda que meu tio secretamente
me havia oferecido .
Não cumpri .
Guiaram-me os mandos do diabo e , numa cova ,
ocultei esse enfeitiçado enfeite .
( ...)
E pergunto : posso agora , meu pai . agora que eu
já tenho mais ruga que pregas tem esse vestido ,
posso agora me embelezar de vaidades ?
Fico à espera de sua autorização , enquanto vou
ao pátio desenterrar o vestido do baile que não houve .
E visto-me com ele . me resplandeço ante o espelho ,
rodopio para enfunar a roupa .
Uma diáfana música me embala pelos corredores da casa .
Agora , estou sentada , olhando a saia rodada ,
a saia amarfanhosa , almarrotada .
E parece que me sento sobre minha própria vida ."
Mia Couto , in " O Fio das Missangas "
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Gangorra
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
INTUIÇÃO
Trecho da crônica
" Impossível definir , mas vou tentar entender.
Tenho uma vaga intuição. Só quem o experimenta
reconhece aquele sentimento , atrás do pensamento.
Aquela coisa que você sabe , antes mesmo de saber.
A intuição sempre foi descrita como apanágio feminino.
Nós mulheres sabemos que não é bem assim .
Quero fazer o elogio da intuição como
conhecimento refinado.
Chamá-la de sexto sentido é situá-la no corpo ,
onde moram os outros cinco que nos conectam
com o mundo.
Não creio que ela more lá .
Mora em algum misterioso lugar onde se formam
os conhecimentos mais agudos , mais cortantes .
E tem , sim, uma história.
Por que as mulheres seriam mais intuitivas
do que os homens ? Por natureza ?
Nossa história vem de longe , começa com
a luta pelo amor e atenção , mas se prolonga
e aprofunda , depois ,com a necessidade de cuidar
dos filhos recém-nascidos.
Como conhecer um bebê que não fala, urra
e se desespera?
Os cegos desenvolvem a acuidade do tato ,
os surdos confiam cegamente em seus olhos ,
e as mulheres , à força de conviver ao longo
de toda a história com seres que não sabem
falar , desenvolvem a intuição , que é muito
mais do que a capacidade de entender mensagens
que não usam a linguagem ; é também a arte de
descobrir face a um conjunto de informações qual
é a principal .
É a inteligência anterior e mais rápida
que o pensamento.
Passar de instinto a conhecimento
não é pouca coisa é um "up grade "que as mulheres
merecem e que é preciso anunciar antes que elas
mesmas comecem a desvalorizar essa qualidade que têm ."
Rosiska Darcy de Oliveira , in " Chão de terra "
RJ , Rocco , 2010
terça-feira, 14 de setembro de 2010
José : Carlos Drummond de Andrade
E agora, José ?
A festa acabou ,
a luz apagou ,
o povo sumiu ,
a noite esfriou ,
e agora , José ?
e agora , Você ?
Você que é sem nome ,
que zomba dos outros ,
Você que faz versos ,
que ama , protesta ?
e agora , José ?
Está sem mulher ,
está sem discurso ,
está sem carinho ,
já não pode beber ,
já não pode fumar ,
cuspir já não pode ,
a noite esfriou ,
o dia não veio ,
o bonde não veio ,
o riso não veio ,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou ,
e agora , José ?
E agora , José ?
sua doce palavra ,
seu instante de febre
sua gula e jejum ,
sua biblioteca ,
sua lavra de ouro ,
seu terno de vidro ,
sua incoerência ,
seu ódio , - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta ,
não existe porta ,
quer morrer no mar
mas o mar secou ,
quer ir pra Minas ,
Minas não há mais .
José , e agora ?
Se você gritasse ,
se você gemesse ,
se você tocasse ,
a valsa vienense ,
se você dormisse ,
se você cansasse ,
se você morresse ...
Mas você não morre ,
você é duro , José !
Sozinho no escuro
qual bicho- do- mato ,
sem teogonia ,
sem parede nua ,
para se encostar ,
sem cavalo preto ,
que fuja do galope ,
você marcha , José !
José , para onde ?
A festa acabou ,
a luz apagou ,
o povo sumiu ,
a noite esfriou ,
e agora , José ?
e agora , Você ?
Você que é sem nome ,
que zomba dos outros ,
Você que faz versos ,
que ama , protesta ?
e agora , José ?
Está sem mulher ,
está sem discurso ,
está sem carinho ,
já não pode beber ,
já não pode fumar ,
cuspir já não pode ,
a noite esfriou ,
o dia não veio ,
o bonde não veio ,
o riso não veio ,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou ,
e agora , José ?
E agora , José ?
sua doce palavra ,
seu instante de febre
sua gula e jejum ,
sua biblioteca ,
sua lavra de ouro ,
seu terno de vidro ,
sua incoerência ,
seu ódio , - e agora ?
Com a chave na mão
quer abrir a porta ,
não existe porta ,
quer morrer no mar
mas o mar secou ,
quer ir pra Minas ,
Minas não há mais .
José , e agora ?
Se você gritasse ,
se você gemesse ,
se você tocasse ,
a valsa vienense ,
se você dormisse ,
se você cansasse ,
se você morresse ...
Mas você não morre ,
você é duro , José !
Sozinho no escuro
qual bicho- do- mato ,
sem teogonia ,
sem parede nua ,
para se encostar ,
sem cavalo preto ,
que fuja do galope ,
você marcha , José !
José , para onde ?
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Cecília Meireles : Cânticos
domingo, 12 de setembro de 2010
Lya Luft , assim nos fala ...
" Não vejo um melhor projeto de vida do que
escolher o lado do sol , em vez de acompanhar
a procissão de queixosos .
Querer ser o cuidador ( sem vitimização ) e não
o perseguidor , não humilhar o parceiro ou ironizar
o filho que não vai esquecer isso nunca mais .
A vida é uma longa construção : em geral a
enxergamos como deterioração .
Não conseguimos apreciar o outro lado ,
que é acúmulo , experiência , serenidade ,
mínima sabedoria , mais tempo , quem sabe
mais bondade .
Construção de emoções positivas ,com porões de
tristezas e um sótão de decepções , mas a sala e
os quartos arejados , com portas que podemos abrir
para que se revele o que ainda virá em seguida
e vai se desdobrar .
Isso é o que " a gente decide " .
Lya Luft , in " Múltipla escolha "
Homenagem à grande amiga da família ,
que escolheu o caminho do sol ,
iluminando todos ao seu lado ,
e que muita falta nos fará , pois hoje nos deixou :
Shirley Stopiglia .
e que muita falta nos fará , pois hoje nos deixou :
Shirley Stopiglia .
sábado, 11 de setembro de 2010
ANTES QUE
" Preciso ler um bom poema antes
de dormir
antes que a noite encerre o
diário inventário das lembranças
antes que o sono cale a boca e o olhar , antes
que o prumo caia
horizontal .
Preciso ler um bom poema antes
que seja tarde
que fique escuro
que chegue o frio .
Ler um bom poema antes que a morte venha
e escreva o seu ."
Marina Colasanti , in "Passageira em trânsito"
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Dedução : Maiakovski
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Epitáfio : Titãs
" Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que queria fazer ...
Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração ...
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar ...
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor ...
Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier ...
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar ...
Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr ..."
composição : Sérgio Britto
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Ler Leminski é sempre bom ...
" quando eu tiver setenta anos
então vai acabar essa adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre-docência
vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar essa adolescência ."
terça-feira, 7 de setembro de 2010
O Milagre da Empatia : Artur da Távola
Trecho da crônica
" O mais difícil dos sentimentos é o sentimento
do outro. O outro é ele e és tu .
Ele é realmente o outro ou é a parte tua que não
queres ser, saber , ver ou aceitar?
Tu és o outro para os outros , logo és igual
a ele. Todos somos " outros" .
E , no entanto o outro invade, ameaça , mastiga
de boca aberta ,irrita, eriça , machuca.
Até teu filho é o outro.
E tu , pobre pretencioso , pensas que ele é teu ...
O sentimento do outro não é sentir por ele .
É saber o que ele sente .
O sentimento do outro não é o masoquismo de fazer
teu , um sofrimento que só a ele pertence .
É dimensionares a medida certa do sofrimento dele
e só poderes ajudar porque não fazes teu um
sofrimento alheio mas o entendes e sentes , na
exata medida de sua extensão , sem as marcas e
e as limitações da dor enquanto dói .
Não é ficar como o outro .
É ficar com o outro.
O sentimento do outro é quase um milagre .
Cuidado com ele , vai te obrigar a ceder ,
a entender.
Atrapalhará para sempre teu desejo ,
tua gula e vontade .
O sentimento do outro é tua glória e tua tragédia !
Tanto mais o terás quanto encontres em ti
os escaninhos escurecidos do que és
e, ao mesmo tempo ,as luzes do que ,
ainda puro ,brilha em ti .
O sentimento do outro é o conteúdo oculto
do amor ao próximo ."
" O mais difícil dos sentimentos é o sentimento
do outro. O outro é ele e és tu .
Ele é realmente o outro ou é a parte tua que não
queres ser, saber , ver ou aceitar?
Tu és o outro para os outros , logo és igual
a ele. Todos somos " outros" .
E , no entanto o outro invade, ameaça , mastiga
de boca aberta ,irrita, eriça , machuca.
Até teu filho é o outro.
E tu , pobre pretencioso , pensas que ele é teu ...
O sentimento do outro não é sentir por ele .
É saber o que ele sente .
O sentimento do outro não é o masoquismo de fazer
teu , um sofrimento que só a ele pertence .
É dimensionares a medida certa do sofrimento dele
e só poderes ajudar porque não fazes teu um
sofrimento alheio mas o entendes e sentes , na
exata medida de sua extensão , sem as marcas e
e as limitações da dor enquanto dói .
Não é ficar como o outro .
É ficar com o outro.
O sentimento do outro é quase um milagre .
Cuidado com ele , vai te obrigar a ceder ,
a entender.
Atrapalhará para sempre teu desejo ,
tua gula e vontade .
O sentimento do outro é tua glória e tua tragédia !
Tanto mais o terás quanto encontres em ti
os escaninhos escurecidos do que és
e, ao mesmo tempo ,as luzes do que ,
ainda puro ,brilha em ti .
O sentimento do outro é o conteúdo oculto
do amor ao próximo ."
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Declaração de hoje ...
domingo, 5 de setembro de 2010
Pablo Neruda , no domingo
" Não te amo como se fosses rosa de sal , topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo :
te amo como se amam certas coisas obscuras ,
secretamente , entre a sombra e a alma .
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si , oculta , a luz daquelas flores ,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como , nem quando , nem onde ,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho :
assim te amo porque não sei amar de outra maneira ,
senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho ."
in, " Cem Sonetos de Amor " , XVII
sábado, 4 de setembro de 2010
No sábado ? Clarice por Clarice
" Mulher feita tive um cachorro vira-lata
que comprei de uma mulher do povo
no meio do burburinho de uma rua de Nápoles
porque senti que ele nascera para ser meu,
o que ele também sentiu em alegria enorme ,
imediatamente me seguindo já sem saudade
da ex-dona , sem sequer olhar para trás ,
abanando o rabo e me lambendo .
Mas é uma história comprida , a de minha vida
com esse cão que tinha cara de
mulato-malandro brasileiro , apesar de ter nascido
e vivido em Nápoles , e a quem dei o nome
rebuscado de Dilermando pelo que nele
havia de pernosticamente simpático e
de bacharel de começo de século .
Desse Dilermando eu teria muito a contar.
Nossas relações eram tão estreitas ,
sua sensibilidade estava de tal modo ligada
à minha que ele pressentia e
sentia minhas dificuldades .
Quando eu estava escrevendo à máquina ,
ele ficava meio deitado ao meu lado ,exatamente
como a figura da esfinge , dormitando.
Se eu parava de bater por ter encontrado
obstáculo e ficava muito desanimada
ele imediatamente abria os olhos ,
levantava alto a cabeça , olhava-me com uma das
orelhas em pé ,esperando.
Quando eu resolvia o problemae continuava
a escrever ,ele se acomodava de novo na sua
sonolência povoada de sonhos -
porque cachorro sonha , eu vi .
Nenhum ser humano me deu jamais a sensação de ser
tão totalmente amada como fui amada
sem restrições por esse cão .
(...)
" Ter bicho é uma experiência vital .
E a quem não conviveu com um animal
falta um certo tipo de intuição do mundo vivo.
Quem se recusa à visão de um bicho está
com medo de si próprio ."
in, Clarice Lispector , " Aprendendo a viver " ,
crônica , " Bichos " ( 1 )
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Sexta-feira, com Alice Ruiz
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Leminski , na quinta-feira
Rumo ao Sumo
" Disfarça, tem gente olhando .
Uns , olham pro alto ,
cometas , luas , galáxias .
Outros , olham de banda ,
lunetas , luares , sintaxes .
De frente ou de lado ,
sempre tem gente olhando ,
olhando ou sendo olhado .
Outros olham para baixo ,
procurando algum vestígio
do tempo que a gente acha ,
em busca do espaço perdido .
Raros olham para dentro ,
já que dentro não tem nada .
Apenas um peso imenso ,
a alma , esse conto de fada ."
Paulo Leminski , in " La vie en close "
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Setembro chegou !
" Quando entrar setembro
E a boa nova andar nos campos ,
Quero ver brotar o perdão
onde a gente plantou .
Juntos outra vez ,
Já sonhamos juntos
Semeando as canções no vento
Quero ver crescer nossa voz
No que falta sonhar .
Já choramos muito ,
Muitos se perderam no caminho ,
Mesmo assim não custa inventar
uma nova canção ...
Que venha nos trazer ,
Sol de primavera ,
Abre as janelas do meu peito ,
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender ... "
" Sol de primavera"
composição de Beto Guedes / Ronaldo Bastos
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