domingo, 20 de fevereiro de 2011

Bem - te- vi ...



" Que terás visto ?

Há quanto tempo tu avisas , bem-te-vi ...

Bem-te-vi da minha infância , sempre a gritar

sempre a contar , fuxiqueiro ,

e não viste nada .


Meu amiguinho , preto-amarelo.

Em que ninho nasceste , de que ovinho vieste ,

e quem te ensinou a dizer : Bem-te-vi ? ...

Bem te vejo , queria eu também cantar e repetir

para ti : Bom dia , bem te vejo , te escuto .

Bem -te- vi sobrevivente

de tantos que já não voam sobre o rio ,

nem pousam nas palmas dos coqueiros altos ...


Mostra para mim , meu velho companheiro


de uma infância ultrapassada ,

tua casa , tua roça , teu celeiro , teu trabalho,

tua mesa de comer , tuas penas de trocar ,

leva-me à tua morada de amor a procriar .

Vamos ao altar de Deus agradecer ao criador

não desaparecerem de todo os Bem-te-vis

dos Reinos de Goiás .


Canta para mim , tão antiga como tu ,

as estorinhas do passado.

Bem-te-vi inzoneiro ,malicioso e vigilante .

Conta logo o que viste , fuxiqueiro do espaço ,

sempre nas folhas dos coqueiros altos ,

que também vão morrendo devagar


como morrem os coqueiros ,

comidos de velhice e de lagartas ."



Cora Coralina


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