sexta-feira, 22 de julho de 2011

BRANCA DE NEVE




" Eu te guardo no fundo da memória ,

como guardo , num livro , aquela flor ,

que marca a tua delicada história ,

Branca de Neve , meu primeiro amor .



Amei-te ...E amei-te , figurinha aluada ,

porque nunca exististe e porque sei

que o sonho é tudo - e tudo mais é nada ...

E és o primeiro sonho que sonhei .



Hoje ainda beijo , comovido e tonto ,

a velha mão que um dia me mostrou

aquela estampa do teu lindo conto ,

princesinha encantada de Perrault !


Que fui eu , afinal ? - Um pobre louco

que andou , na vida , procurando em vão

sua Branca de Neve que era um pouco

do sonho e um pouco de recordação...


Procurei-a . Meus olhos esperaram

vê-la passar com flores e galões ,

tal qual passaste quando te levaram ,

no ataúde de vidro os sete anões .


E encontrei-a a Saudade : ia alva e leve

na urna do passado que , afinal ,

é como teu caixão , Branca de Neve :

é um ataúde todo de cristal .


E parecia morta : mas vivia .

Coroado do meu beijo que a roçou ,

despertei-a do sono em que dormia ,

como o Princípe Azul te despertou .


Sinto-me agora mais criança ainda

do que naqueles tempos em que li

a tua história mentirosa e linda ;

pois quase chego a acreditar em ti .


É que o meu caso ( estranha extravagância ! )

é a tua história sem tirar nem pôr ...

E esta velhice é uma segunda infância ,

Branca de Neve , meu primeiro amor ."


Guilherme de Almeida

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