domingo, 16 de outubro de 2011

Brejo das almas



" Fui em busca de vãs utopias .

Lutei contra moinhos de vento .

Dei murros em ponta de faca .



Quis reter o último raio de sol

Do poente ...

E a última gota de água

Da chuva ...



Guardei vaga-lumes brilhantes

Em redomas translúcidas ...

Guardei os girinos do rio

Em aquários de vidro ...



Enchi vidros de água

Com giz colorido .

Quis reter suas cores ...

Acreditei ... que não desbotariam .


Desbotam ...


As águas ...As roupas no varal ...

As aquarelas ...

Desbotam os olhos ... e as fotografias ...


Não venci os moinhos de vento ...

Tenho as mãos machucadas

Das pontas de faca ...


O sol não me deu o seu último raio ...

E a chuva negou-me sua última gota ...


Vaga-lumes não fizeram brilhar

Minha lanterna mágica ...

E os girinos do rio não se tornaram

Peixes coloridos ...


Viraram sapos !


Que inda hoje coaxam

No brejo das almas ...

Onde mora a saudade ..."



Carlos Drummond de Andrade

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