terça-feira, 6 de março de 2012

FABRÍCIO CARPINEJAR



( ...)

" Meus amigos reclamam quando suas

namoradas os perseguem .

Lamentam o barraco do ciúme ,

a insistência dos telefonemas para

falarem praticamente nada , o cerceamento

dos horários .

Sempre as mesmas tramas de tolhimento

da liberdade , que todos concordam

e soltam gargalhadas buscando um

refúgio para respirar .

Eu me faço de surdo .

Fico com vontade de pedir a chave da

prisão para passar o domingo .

Acho o controle comovente . Invejável .

( ...)

Quero uma mulher perdigueira , possessiva ,

que me ligue a cada quinze minutos para

contar uma idéia ou uma nova invenção para

salvar as finanças , quero uma mulher que

ame meus amigos e odeie qualquer amiga que

se aproxime. Que arda de ciúme imaginário

para prevenir o que nem aconteceu .

Que seja escandolosa na briga e me amaldiçoe

se abandoná-la .

Que faça trabalhos em terreiro para me assustar

e me banhe de noite com o sal grosso da

sua nudez . Que feche meu corpo quando sair

de casa , que descosture meu corpo quando

voltar .

Que brigue pelo meu excesso de compromissos,

que me fale barbaridades sob pressão e ternuras

delicadíssimas ao despertar .

Que peça desculpa depois do desespero e

me beije chorando .

A mulher que ninguém quer eu quero.

Contraditória , incoerente , descabida .

(...)

Quero uma mulher que esqueça o nome de

seu pai e de sua mãe para nascer em

meus olhos . Em todo momento .

A toda hora . Incansavelmente .

E que eu esteja apaixonado para nunca

desmerecê-la , que esteja apaixonado para

não diminuí-la aos amigos ."



in , " Mulher Perdigueira "

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