Santiago Carbonell
" Ele não sabe quem sou ,
de onde venho ,
o que faço , o que tenho ,
onde quero chegar .
Conhece só minha linguagem ,
que dispensa miçangas , paetês ,
bugigangas de brilho ,
vidrilhos , colchetes , ilhoses ,
eternos algozes da ideia ,
que mantém longe da plateia ,
numa torre isolada .
Nada sabe de mim e , no entanto ,
hoje é para ele que escrevo ,
que desenho meu canto em autorrelevo .
Somos capazes da mesma luta ,
do mesmo pôr-de-mar ,
quando o sol vai prevaricar ,
tonto de estrelas ;
somos parceiros de acampar dentro de flores ,
provar de seus licores ,
sem nem sequer comprometê-las .
A esse meu par desconhecido
vale curiosa informação
de que não tenho olhos azuis
( discutivelmente verdes como prêmio de consolação ),
não sei nadar , nem falo alemão .
Um dia ainda aprendo a cozinhar .
Só se pode considerar um modo certo :
continuo a escrever porque o preciso perto ,
companheiros de mundo até morrer ."
Flora Figueiredo ,
in " Amor a céu aberto "
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